quarta-feira, 13 de junho de 2012

GONÇALVES DIAS E O NACIONALISMO LITERÁRIO



O período depois do movimento arcádico se exprime através de dois fatores novos: A Independência Política e o Romantismo. Com a independência do Brasil, os anos subsequentes passaram por um problema relacionado à configuração de uma nova identidade, uma identidade própria, que tivesse uma imagem que o representasse, é possível afirmar esta idéia através do texto de Antonio Candido (1981):
A independência importa de maneira decisiva no desenvolvimento da idéia romântica, para a qual contribuiu pelo menos com três elementos que se podem considerar como redefinição de posições análogas do Arcadismo: (a) desejo de exprimir uma nova ordem de sentimentos [...]; (b) desejo de criar uma literatura independente, diversa [...] (c) a noção já referida de atividade intelectual não mais apenas como prova de valor brasileiro e esclarecimento mental do país , uma tarefa patriótica na construção nacional. (CANDIDO, 1981, p.11)

Neste sentido a literatura romântica ocupou um papel de destaque, pois constituiu uma literatura equivalente às européias, que buscava representar sua realidade própria mais voltada para a realidade brasileira, o que se chamava de “Literatura Nacional”. Mas o que era, para essa geração, o “nacional”?

Que se entendia por semelhante coisa? Para uns era a celebração da pátria, para outros o indianismo, para outros, enfim algo indefinível, mas que nos exprimisse. Ninguém saberia dizer com absoluta precisão; mas todos tinham uma noção aproximada, que podemos avaliar lendo as varias manifestações a respeito, algumas bastante compreensivas para abranger vários ou todos os temas reputados nacionais ( CANDIDO, 1981, p. 10)

Coube então à Primeira Geração Romântica, construir uma literatura cujas características traziam o nacionalismo, o patriotismo, o Indianismo e a forte religiosidade. Ou seja, os literatos dessa fase exaltavam o Brasil de forma exacerbada, escondiam as diferenças internas e transmitiam somente uma imagem idealizada de nossa sociedade.

Traziam em suas obras a figura do índio como um herói, espírito nobre, um ser de valores que representava honra, honestidade e lealdade. Cantavam em suas obras as belezas das palmeiras, as margens do Rio Amazonas, os costumes, a religião, as aves típicas como o sabiá e tudo de belo que possuía a região Brasileira.

Gonçalves Magalhães foi considerado o introdutor do Romantismo no Brasil com a publicação da obra Suspiros Poético e Saudades de 1836. Porém, quem realmente se consagrou como autor da primeira geração romântica foi Gonçalves Dias, que trazia a forte característica indianista em suas obras.
 
A forma reputada mais lídima da literatura nacional foi, todavia, desde logo, o indianismo que teve o momento áureo no meado do decênio de 40 ao decênio de 60 [...] Naquele momento encontrou em Gonçalves Dias e José de Alencar representantes do mais alto Quilate. (CANDIDO, 1981, p. 18)
 
O indianismo foi a forma mais reconhecida como literatura nacional, e a obra Primeiros Cantos de Gonçalves Dias, de 1846, decidiu o destino do indianismo. A partir daí a característica indianista se tornou para os contemporâneos a categoria que representava a poesia brasileira por excelência. Entre 1846 e 1865 surgiram os outros contos de Gonçalves Dias, entre eles: Os Timbiras, O Guarani, Iracema, A Confederação Dos Tamoios.

Gonçalves Dias inventava ou realçava aspectos do comportamento do índio que pudesse destacar nele o cavalheirismo e a generosidade. Trazia em suas obras uma visão do índio como lenda e como história. O valor dos costumes, as crenças, as tradições se misturam maravilhosamente em seus poemas.

Cláudio Manuel da Costa e o nativismo

Cláudio Manuel da Costa, escritor brasileiro teve grande importância e expressiva contribuição para a formação e consolidação de uma literatura nacional ao expressar características do Brasil em sua obra, através da representação de traços do que viria a se chamar de “nativismo” em nossa literatura. Criava-se a partir disso uma literatura que poderia chamar-se de autônoma, na qual se via, ao lado das características europeias na forma de escrever, mas a valorizção da literatura como uma forma de promover o desenvolvimento do local. Como escreve Antonio Candido:
 
Nesse processo verificamos o intuito de praticar a literatura, ao mesmo tempo, como atividade desinteressada e como instrumento, utilizando-a ao modo de um recurso de valorização do país – quer no ato de fazer aqui o mesmo que se fazia na Europa culta, quer exprimindo a realidade local. ( CANDIDO, 1981.p.9)
 
Seguindo esta ideia de valorização da pátria, o poeta Cláudio Manuel da Costa passou pela transição entre o estilo Barroco e o Árcade, abraçando este último como forma para escrever, com características do bucolismo literário, o qual, entretanto, não retratava o lócus amoenus da convenção neo-clássica, mas sim a natureza áspera e rude das pasisagens mineiras. O cenário rochoso de Minas é uma constante em seus versos que expressam mortificação interior causada pelo contraste entre o rústico mineiro e a experiência cultural europeia, como no soneto VIII:
 
Este é o rio, a montanha é esta,
Estes os troncos, estes os rochedos;
São estes inda os mesmos arvoredos;
Esta é a mesma rústica floresta.
Tudo cheio de horror se manifesta,
Rio, montanha, troncos, e penedos;
Que de amor nos suavíssimos enredos
Foi cena alegre, e urna é já funesta.
Oh quão lembrado estou de haver subido 
Aquele monte, e as vezes, que baixando 
Deixei do pranto o vale umedecido!
Tudo me está a memória retratando;
Que da mesma saudade o infame ruído
Vem as mortas espécies despertando.

Ao falarmos de Literatura Brasileira, pensamos em como ocorreu a formação da literatura brasileira, de que maneira deu-se o seu início e continuidade, e para falarmos sobre este assunto, tomamos como base o autor Antônio Cândido em seu livro “Formação da Literatura brasileira”

Antônio Cândido aborda em seu capitulo “ O nacionalismo Literário” a forma como a Literatura surgiu e consolidou-se no Brasil:
 
O movimento arcádico significou, no Brasil, incorporação, da atividade intelectual aos padrões europeus tradicionais, ou seja, a um sistema expressivo, segundo o qual se havia forjado a literatura, ao mesmo tempo, como atividade desinteressada e como instrumento, utilizando-a ao modo de um recurso de valorização do país- quer no ato de fazer aqui mesmo que se fazia na Europa culta, quer exprimindo a realidade local. ( CANDIDO, 1981.p.9)

Um outro momento das construções poéticas deste autor em que vemos claramente o nativista é o seu poema intitulado “Vila Rica”, o qual fala de todas as riquezas que esta cidade possuía, os seus elementos materiais, mas acima de tudo valorizava os elementos naturais, característica de seu poema:

"Já desde quando no projeto vinhas

De encontrar as preciosas esmeraldas,

Eu te esperava deste monte às faldas.

O Deus destes tesouros impedia

Até aqui descobri-los, e fingia

Meu rosto aos homens tão escuro e feio

Por que infundisse em todos o receio."

(Vila Rica. Canto VIII, v.189-195)



Referências:

CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira, 2 vol. Belo Horizonte:Livraria. Itatiaia, 1981